A narrativa do Rap nacional é travada por uma guerra de convergência ideológica. Os pontos cruciais que estabelecem determinadas ideias, podem em certa medida até fugir um do outro, contudo existem situações e opiniões que ao se afastarem dos conceitos da cultura de rua, perdem a sua autenticidade. A convicção é pressuposto básico para um artista se estabelecer na cultura, ainda mais no Rap, que sempre carregou a alcunha de 'Defensor da favela' e se posicionou contrário às artimanhas do sistema. Não é difícil um cantor ou cantora, perder a credibilidade conquistada a fio, depois de exprimir algum ponto de vista diferente da ortodoxia que o consagrou. Casos não faltam de cantores que ao lançar uma música menos politizada, ou até romântica, foram bombardeados por seus fãs por em tese estarem “se vendendo”.
A síntese disso é que não só a música do artista tem relevância e deve ser pesada, mas a sua postura e discurso integralmente. Ser rapper num contexto brasileiro é carregar o fardo das suas palavras para o resto da vida, pelo menos da vida artística. O caráter de milhares de jovens pobres, negros e periféricos foi forjado à luz de letras que tiveram um peso esmagador na vida destes. O histórico do Rap brasileiro, principalmente dos anos 90 e 2000 foram à sustentação oral para moldar ideologias que esses fãs, hoje adultos, trazem consigo, para o bem ou para o mal. Conseguinte esse fato, rappers que tem uma bagagem no Hip Hop, ainda hoje tem uma forte influencia e é ai que entramos em um paradoxo.
O público do rap é altamente critico e reflexivo. Tem uma quantidade absurda de disposição para cobrar situações, que na sua visão corrompem o movimento. Porém, idolatram rappers pela sua concepção histórica, e não fazem leitura da situação. Usam um dogmatismo em torno desses personagens, como estes não fossem capazes de errar. São ortodoxos e criam “doutrinas” sobre o Hip Hop que não podem ser quebradas. Em suma, partem do maniqueísmo cultural onde existem os que são de “verdade” e os de “mentira”. No entanto, os “verdadeiros” são sempre verdadeiros, e não podem ser questionados.
Numa época de convulsões sociais em que vivemos, com a retirada de direitos fundamentais e trabalhistas, ou ataques à democracia. Muitos rappers não se omitiram da questão. O rapper Daniel do grupo Ordem Própria fez um vídeo apoiando o movimento contrários as reformas trabalhistas. O grupo RZO usou sua influencia para apoiar o pleito direto ante as inúmeras noticias de corrupção do governo Temer. Criolo e Mano Brown também se posicionaram referente aos acontecimentos. O rapper Eduardo foi outro que mostrou sua leitura de situação em relação ao impeachment.
Porém, nem só de posicionamentos assertivos caminha o Rap. Em uma entrevista recente, Mv Bill ao ser questionado sobre o deputado Jair Bolsonaro, o poupou de críticas mais severas e chegou a falar que o parlamentar "tem ate ideias boas". Outro que chamou a atenção nas redes sociais foi o rapper Douglas ex-Realidade Cruel, que ao comentar sobre os atos de violência contra religiões de matrizes africanas foi complacente com os agressores, usando da hegemonia da religião cristã e usou termos depreciativos para falar sobre a homossexualidade. O cantor já tinha se envolvido numa polêmica em 2016, ao se candidatar a vereador por um partido de viés conservador de direita.
Fora os inúmeros casos de rappers agressores de mulheres, preconceituosos, homofóbicos e apoiadores de ideais reacionários que bradam em suas letras o requerimento da autenticidade da cultura Hip Hop e Defensores da favela. Mas ai que está a questão. Na favela não tem gay? Só tem cristão? Só existe os manos? Não exste diversidade?
Numa época de convulsões sociais em que vivemos, com a retirada de direitos fundamentais e trabalhistas, ou ataques à democracia. Muitos rappers não se omitiram da questão. O rapper Daniel do grupo Ordem Própria fez um vídeo apoiando o movimento contrários as reformas trabalhistas. O grupo RZO usou sua influencia para apoiar o pleito direto ante as inúmeras noticias de corrupção do governo Temer. Criolo e Mano Brown também se posicionaram referente aos acontecimentos. O rapper Eduardo foi outro que mostrou sua leitura de situação em relação ao impeachment.
Porém, nem só de posicionamentos assertivos caminha o Rap. Em uma entrevista recente, Mv Bill ao ser questionado sobre o deputado Jair Bolsonaro, o poupou de críticas mais severas e chegou a falar que o parlamentar "tem ate ideias boas". Outro que chamou a atenção nas redes sociais foi o rapper Douglas ex-Realidade Cruel, que ao comentar sobre os atos de violência contra religiões de matrizes africanas foi complacente com os agressores, usando da hegemonia da religião cristã e usou termos depreciativos para falar sobre a homossexualidade. O cantor já tinha se envolvido numa polêmica em 2016, ao se candidatar a vereador por um partido de viés conservador de direita.
Fora os inúmeros casos de rappers agressores de mulheres, preconceituosos, homofóbicos e apoiadores de ideais reacionários que bradam em suas letras o requerimento da autenticidade da cultura Hip Hop e Defensores da favela. Mas ai que está a questão. Na favela não tem gay? Só tem cristão? Só existe os manos? Não exste diversidade?
O perigo mora exatamente na cobrança de postura quanto àqueles que os fãs julgam não serem autênticos, e essa indagação é muito mais forte. Em 2016, quando estava em voga à discussão do impeachment no Brasil, houve um grupo de “rappers” que patrocinados para se posicionaram a favor do certame, assim o fizeram, com direito a mini clipe e tudo. Na época, tivemos discussões acirradas sobre o fato, muitas pessoas falando que “rappers” não poderiam participar de tal ato, pois tratava-se de um movimento liderado pela elite, entre outras coisas. Ora, não há espanto nenhum nisso. O que esperar de artistas que nunca demonstraram simpatia pelas causas sociais, ou por questões mais politizadas? Ou que nunca firmaram um “contrato” com a favela? Sem falar, que um dos ditos “rappers” envolvidos já havia causado polemica ao lançar um vídeo clipe com Black Face.
Partindo disso, não adianta querer cobrar posicionamento de grupos que nunca prometeram nada para a periferia. Nunca se dispuseram a enfrentar as mazelas sociais ou combater a desigualdade explicitamente nas suas músicas. Como disse o Barão de Itararé, "De onde menos se espera, daí é que não sai nada". Rotular alguém de "Rap de mentira" por não devotar de ideias politizadas e militantes não acrescenta ao movimento. A cobrança tem que ser em cima dos que sempre requisitaram a defesa da periferia em letras e discursos. O Hip Hop ensinou jovens a questionarem o mundo e as suas contradições. E esse questionamento se estende também ao próprio movimento. Essa cobrança não pode deixar passar atos de omissão em crises politicas que afetam diretamente a favela, ou apontar erros nos discursos, mesmo que venham de rappers consagrados.
Para finalizar, cito o artigo "Hip Hop Politico ou Politizado?", publicado ano passado, onde é falado sobre como ser do Hip Hop não era atestado de honestidade. Isto quer dizer que os anos de caminhada, o histórico de militância, as letras pesadas, não podem ser usados como subterfúgio para se esquivar de criticas honestas. Quando rappers erram, devemos sim, pontuar esses erros.
Todos, sem exceção devem saber que não há mais espaço para ideias reacionárias, preconceituosas, machistas, intolerantes ou posicionamentos que são contrários à periferia em toda a sua forma. O Rap Tá ficando chato?
[...] Quem vive o Rap nacional verdadeiramente deve entender que toda, e repetindo, TODA forma de racismo e preconceito é injusta e deve ser abolida dos nossos discursos. Discordar de opiniões alheias é um direito, ninguém é obrigado a concordar com tudo, mas reforçar discurso de ódio, intolerância e preconceito é alheio ao Rap [...]
Partindo disso, não adianta querer cobrar posicionamento de grupos que nunca prometeram nada para a periferia. Nunca se dispuseram a enfrentar as mazelas sociais ou combater a desigualdade explicitamente nas suas músicas. Como disse o Barão de Itararé, "De onde menos se espera, daí é que não sai nada". Rotular alguém de "Rap de mentira" por não devotar de ideias politizadas e militantes não acrescenta ao movimento. A cobrança tem que ser em cima dos que sempre requisitaram a defesa da periferia em letras e discursos. O Hip Hop ensinou jovens a questionarem o mundo e as suas contradições. E esse questionamento se estende também ao próprio movimento. Essa cobrança não pode deixar passar atos de omissão em crises politicas que afetam diretamente a favela, ou apontar erros nos discursos, mesmo que venham de rappers consagrados.
Para finalizar, cito o artigo "Hip Hop Politico ou Politizado?", publicado ano passado, onde é falado sobre como ser do Hip Hop não era atestado de honestidade. Isto quer dizer que os anos de caminhada, o histórico de militância, as letras pesadas, não podem ser usados como subterfúgio para se esquivar de criticas honestas. Quando rappers erram, devemos sim, pontuar esses erros.
Todos, sem exceção devem saber que não há mais espaço para ideias reacionárias, preconceituosas, machistas, intolerantes ou posicionamentos que são contrários à periferia em toda a sua forma. O Rap Tá ficando chato?
[...] Quem vive o Rap nacional verdadeiramente deve entender que toda, e repetindo, TODA forma de racismo e preconceito é injusta e deve ser abolida dos nossos discursos. Discordar de opiniões alheias é um direito, ninguém é obrigado a concordar com tudo, mas reforçar discurso de ódio, intolerância e preconceito é alheio ao Rap [...]