O RAP TEM LUGAR PRA TODOS... E OS INTOLERANTES?

Na ultima semana, o Hip Hop viveu mais um capítulo polêmico. Uma publicação da DJ Typa causou discussões e debates fervorosos no Facebook. O post de cunho homofóbico e gordofóbico, fez com que diversas mulheres rebatessem o que foi escrito, entre elas Nerie Bento e Lunna Rabetti que fazem parte da Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop. E também das rappers que integram o grupo Rap Plus Size, Issa Paz e Sara Donato.

Aquém das novidades sobre a importância da militância feminina, tivemos à poucos dias, uma mulher árabe, chamada Malak al Shehri, que foi presa por retirar o Hijab e postar uma foto no meio da rua, ou a estudante Débora Soriano que foi estrupada e morta com um taco de beisebol, também o caso da segurança Edvania Nayara, espancada ao tentar ajudar mulher que apanhava do marido. Isso só para citar o casos que ficaram mais evidentes, e não os que infelizmente são apagados pela banalização da violência contra a mulher todos os dias, em todas as partes do mundo. Logo, achar que o feminismo e a luta da mulher é besteira ou cagação de regra, não deve ser mais aceito.

Poderíamos escrever uma tonelada de palavras para falar sobre a cultura de machismo no Hip Hop, a importância do feminismo e das mulheres que lutam pelo fim da estereotipização, homofobia e intolerância. Porém, há quem tenha infinitamente mais direito e legitimidade para falar sobre isso. Mulheres que não precisam de porta vozes ou "defensores" para expor suas opiniões. É o caso da jornalista Jéssica Balbino, que já foi alvo de insultos que foram pichados no muro de sua casa. A escritora fez um ótimo texto reflexivo sobre o caso da DJ Typá.



Confira abaixo, o texto, de uma mulher que tem mais de 17 anos de Hip Hop.

Hoje eu acordei com várias mensagens no meu celular dando conta de uma postagem da DjTypá, em que ela foi assustadoramente gordofóbica e usando de um português bem chulo, ofendeu as pessoas obesas - como eu - e também os gays.
Essa mesma Dj, que eu não conhecia, diz na biografia da rede social que tem 15 anos de hip-hop e usa o "milianismo" para justificar esse tipo de postura na cena.
Soube só depois que ela está envolvida em vários projetos de hip-hop, faz show só com mulheres, toca com rappers como MV BILL, bota no currículo que já namorou o Sandrão do RZO, toca em um sem número de festas e tem milhares de seguidores/apoiadores.
O print do post chegou para mim com mais de 20 curtidas/reações e embora ela tenha apagado a postagem, isso reflete muito do que pensam os representantes do hip-hop brasileiro.
Fiquei muito ofendida com o post - logicamente, porque sou gorda e sofro está opressão - e fui questionada se "será que foi isso mesmo que ela quis dizer?" e de "alguém já falou com ela, pra confirmar se ela mesma que postou isso? Às vezes invadiram o computador dela". E isso me faz pensar na máxima de que "o inimigo é quem decide quando ofendeu", ou nos inúmeros casos de estupro, quando perguntam: "mas você tem certeza que foi estuprada?", "tem certeza que não foi consensual?". E se está escrito com todas as letras que ela é gordofóbica - e embora digam o contrário, é um preconceito e mata - eu é que tenho a obrigação de ouvi-la pra saber se é isso mesmo?!
E o que mais me entristece é que eu tenho centenas de amigos em comum com esta Dj gordofóbica e que estes amigos, muito provavelmente, pensam o mesmo, só não tem coragem de expor.
A gordofobia é sutil, ardilosa, magoa sem intenção, magoa disfarçada de "questão de gosto", "é só minha opinião","gordas são doentes", "é gorda porque quer", "gordas são preguiçosas" e ó: gordofobia mata!
Fico puta. Fico triste. Fico sem saber o que fazer. E com a certeza: sou indesejada pra sociedade. E não vou emagrecer. Não sou eu que tenho que me adequar. Eu vou resistir. E vou expor esta Dj e quem mais for gordofóbico.
Sigamos, porque a luta não para.
Um beijo,
Jessica Balbino (17 anos de hip-hop)



O Rap m Debate


Parceiros