RESGATE DA HISTÓRIA | KMT - DIA P | RINCON SAPIÊNCIA

A lei 10.639 de 2003 assinada pelo então presidente da republica Luiz Inácio Lula da Silva, ponderava sobre a lacuna existente na vasta história brasileira sobre a cultura e tradição da herança africana firmada no solo tupiniquim. Em 2008 essa lei foi modificada para contemplar também o estudo da cultura indígena brasileira. Passo fundamental para contestar a história positivista do homem branco civilizador, que infectou mentes e livros durante séculos de dominação intelectual. Prevalecendo a máxima: "A história é contada pelos vencedores"

"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

“Art. 26-A.  Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

Apesar de tardia, essa lei obriga as escolas publicas e particulares a incluírem em seus currículos a história dos povos arrasados pela dizimação do homem branco europeu e seu maquinário embranquecedor que perpetuou-se pelos séculos seguintes à colonização. Não é simplesmente contar sobre os negros escravizados quando adentraram ao território brasileiro e sobre as agruras que tiveram que enfrentar no processo escravocrata, ou mencionar a catequização forçada dos povos nativos pelos jesuítas e a aculturação e extinção sofrida por eles. É antes de tudo recontar a história, a tradição e a cultura, mas desta vez por um outro viés, e não como antes, que só era protagonizada pelos vencedores como afirma o sociólogo Walter Benjamin:

"O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer(Sobre o conceito da história, P.224)

Todavia, essa lei que sem dúvidas é importantíssima, só foi possível pela árdua luta de pessoas e movimentos negros e indígenas que  perpetravam um combate para que a história dos seus ancestrais fosse contada de maneira legitima e verdadeira. Séculos investidos na exclusão social não conseguiram aniquilar a sede impetuosa por justiça e reparação da própria história. E nessas segmentações de resistência o Movimento Hip Hop foi um dos pilares. O Rap não precisou que nenhum político promulgasse uma lei, para começar a relembrar os heróis revolucionários que lutaram a favor dos menos favorecidos. O que foi introduzido nos livros didáticos com grande atraso, a música revolucionária da periferia fazia à tempos. Não foram poucos os rappers que usaram suas ondas sonoras para reescrever a história e manter viva a chama de resistência.

"Se soubesse o valor que a sua raça tem tingia a palma da mão pra ser escura também" 4P - DMN

"Fracassou sua fórmula de menudos nas crianças, Hoje o ídolo é o careca ou de black ou de trança" / A professora mentirosa quis me iludir na escola, com livro hipócrita sem minha raça, minha história, pau no cú do português que pisou aqui, quero saber ver e ler sobre o meu herói Zumbi" Estratégia - CH e FC

"20 de novembro temos que repensar, a liberdade do negro, tanto teve de lutar" Sou Negrão - Rappin Hood

"A escravidão, as chibatadas levadas na senzala se mantém vivas todo dia no quarto sala / Povo nas ruas é dinamite, campo minado, exigindo 20 de novembro feriado! Zumbi o herói dos libertários" Fogo no pavio - GOG

"E nossos ancestrais por igualdade lutaram , se rebelaram morreram, e hoje o que fazemos?" Racistas otários - Racionais 

"Malcolm Little não e seu nome isso é você que diz, esse nome não é seu foi o feitor que te deu" Malcolm X - Face da morte 

"Tenho orgulho e bato no peito, sou decendente de zumbi , grande líder negro brasileiro" Afro Brasileiro - Thaide

Mas o Rap combatente de raízes não ficou restrito aos anos 90. Mesmo diante da massificação imposta ao Rap nacional por meio da pasteurização das letras existem grupos que permanecem resistentes. É o caso do grupo KMT que carrega a ancestralidade africana até no nome, onde a sigla é uma referencia a KEMET que significa Egito em copta. O grupo formado por Pedro Nubi e Tiago Onidaru lançou o EP "Terra do pretos" em 2015, e em 2016 acaba de lançar o vídeo clipe "Dia P".


"É o dia p, pode marcar no calendário qualquer que seja o meio que ele seja necessário
Pra otários ilegível como hieróglifos nossa história? Nossa assinatura nos livros"


Outro rapper que também mantém a postura e resistência nas letras e batidas é o cantor Rincon Sapiência. Rimas que misturam o Rap nacional com influencias africanas exaltando a negritude. Aliam-se a letras que tratam do cotidiano, resistência e ancestralidade. A música "Donos da mata" realizada em parceria com o Dj Caique fala sobre os povos ameríndios e a sua cultura. 



"A América sofreu um trauma os padres diziam que os índios não tinham alma
Bandeiras europeias na terra finca era uma vez Aztecas, Maiais, Incas"

O Rap m Debate


Parceiros